terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Bichos

O Cansaço é um vírus que pesa como um elefante, mas que se move sem som pelo ar e cabe dentro da gente, às vezes nas pernas, às vezes nas costas, às vezes em cada fibra. Se o cansaço tiver uma cor, é cinza escuro.

O Amor é um passarinho que canta baixinho e lindo, que pousa na mão da gente, mas que no primeiro gesto brusco voa e deixa no lugar o ovo gigante de um outro bicho chamado Tristeza. O amor quando chega é de um amarelo bem claro, mas muda sempre de cor.

A Tristeza é um tipo de sanguessuga, que esvazia a gente e que engole horizontes. Muda de tamanho e se encolhe e mesmo que pareça ter ido embora, sempre pode voltar de repente. Tem a cor do vazio.

A Palavra é um bichinho que se deve guardar muito bem, porque quando escapa se metamorfoseia e chega diferente no outro. Palavra quando sai e volta, sempre retorna outra. Sua cor são todas.

O Futuro é um bicho que jamais existe e que a gente insiste em tentar enxergar e se convencer de que vai ser diferente. O grande segredo do Futuro é fazer parecer que está lá quando na verdade ele já passou. A cor do Futuro é aquela que a gente nunca vai encontrar.

Texto do Maurilo Andreas do Pastelzinho ai do lado!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Próxima faixa:

Talvez eu não seja poeta
Pablo Bertola

Talvez eu não seja poeta
Talvez eu só traga uma seta
Cravada no peito que espeta
Quando a vida é curta
E a alegria é pouca
Quando busco uma reta na estrada torta
Talvez eu não seja poeta
Só traga no peito cravada uma faca
Que dilacera
Quando abro a janela
E a natureza é morta
Quando o grito é frágil
E a justiça é surda
Talvez eu não seja poeta
Só traga no peito uma ferida aberta
Que aperta
Quando a ilusão me visita
Quando a palavra exata escapa
E jamais é escrita
Talvez eu só seja um romântico
Nesses dias de luta
Com um gemido discreto
Atado à garganta
E um grito lunático que ninguém escuta
-
Composição: Pablo Bertola, Ronaldo Rousset e Lido Loschi
Pra curtir: Só ao vivo, e eu tive o privilégio de ver Milton Nascimento cantando!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Na era do /cd/!



O Amor Ruiu


O amor na relva
O amor no chão
Na rede, no ramo de flor
O amor suado, cansado
O amor na sala,
O amor no chão
No viço do riso falso
No ato falho
No raso das rimas o amor dormiu
O amor roncou
Rosnou de ranzinza
Ralhou, rompeu com a razão
Rasgou o ramo, rede, flor
Pulou a cerca, rasgou o coração
Rapaz.
O amor de tanto ranço
Rodou a baiana
Roxo de raiva roeu a roupa do rei
Partiu
Rapaz
O amor que horror
O amor ruiu


(Composição: Pablo Bertola, Ronaldo Rousset e Lido Loschi)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

_Entre palavras, olhares e gestos, eu fico com as provas! Do amor ao desamor.

"A gente não faz amigos, reconhece-os".
(Vinícius de Moraes)

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O leste é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

VENDa(i)DOS


De Frente Pro Crime
João Bosco


Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...
Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...
Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Tá lá o corpo
Estendido no chão...