domingo, 8 de março de 2009

Correnteza



E então me deixo ser levado pela correnteza das horas. Embrulhando-me em minhas mil personalidades e me maravilhando com as mil faces do mundo. É o meu refúgio.
É o meu modo de ser, outrora questionado por seu olhar de metralhadora. Estou cansado desse pedestal. Já é mais do que hora de descer. Cansei de receber concretos fortes e ásperos enquanto armo delicadamente minhas palavras. Os ovos já estão todos quebrados. Não há mais galinha que consiga sobreviver a esse naufrágio de palavras. A verbalização destrói os sentimentos.
Não pense que quero esquecer as horas que ganhei infiltrando-me em pensamentos profundos e tentando tirar conclusões sobre os mesmos. Apenas não quero exigir de tais conclusões uma verdade pura e simples.
Tudo é muito complexo, tudo cai em uma teia de pensamentos embaralhados e palavras mentirosas soltadas ao vento de ambos os lados. A minha língua, muitas vezes afiada, enferruja-se e se estende como um tapete vermelho para que você passe. Para que você volte para casa sem os arranhões das minhas palavras desajeitadas. (...)
Deixe que eu me perca na minha correnteza errante, talvez um dia eu me encontre. Ou talvez não exista nada para se encontrar. Continue navegando com a coragem de sempre (...)


Correnteza
Djavan

A correnteza do rio
Vai levando aquela flor
O meu bem já está dormindo
Zombando do meu amor
Na barranceira do rio
O ingá se debruçou
E a fruta que era madura
A correnteza levou, a correnteza levou
A correnteza levou
E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado
Aonde a boiada passou
Depois da chuva passada céu azul se apresentou
Lá à beira da estrada, vem vindo o meu amor
A correnteza do rio
Vai levando aquela flor
E eu adormeci sorrindo
sonhando com nosso amor

Composição: Tom Jobim e Luiz Bonfá

Nenhum comentário: