Do que me disse Ravel
Um dia ela apareceu; de onde, ninguém até hoje sabe. Só o que era claro a seu respeito era que estava sozinha e teria um destino certamente infeliz. Chegou e recebeu um mundo todo, novo em folha, repleto de alternativas.
Retribuiu como pôde. Transformou-se em pouco tempo na grande sensação. Não havia quem não a amasse muito – e como poderia ser diferente?
Esteve em todos os momentos desde então. Nos bons e nos ruins. Teve todo aquele lugar para aproveitar com a gente no tempo certo e, assim como nós, também teve medo quando deixou o refúgio de sonhos para seguir em frente na nova empreitada, distante e pequena.
Lá amadureceu e solidificou sua personalidade. E era forte a danada. Boa de briga, se preciso. Um pouco neurótica, é fato. Mas amiga de quem merecia. Não tinha papas na língua. Dizia a todo instante que gostava disso ou daquilo. Que queria as coisas, e que viessem logo. Mas que saberia esperar pelas melhores na hora devida. Algumas dessas coisas nunca vieram. Outras ela conquistou naturalmente. Das mais importantes, a amizade com aquela que acostumou a chamar de mãe. E que, como ela, também aprendeu a amar no tempo certo.
Ela viu tudo mudar muito à sua volta. Quem disse que ela gostou? Mas quem diria... ela também soube modificar o pequeno montante de coisas da sua realidade. Conseguiu impor sua rotina e ganhou reconhecimento em itens pequenos, em pequenos gestos. Sábios aqueles que souberam compreender.
No entanto, ela também envelheceu. E, aos poucos, ela percebeu o que todo mundo já sabia, mas poucas vezes questionava. De uns tempos pra cá ficou cansada de tudo. Demais. Acabou por nem se levantar.
Da última vez que nos vimos eu sei que ela se despediu, a seu modo. E eu sei que ela estava grata por tudo – e com a mesma saudade que eu.
blog do Rafael Cortez
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008
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