segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Todos amores iguais....

Todo dia, o amor faz em mim tudo sempre igual.
Me acorda e me move com ele, todo espanto e sono invencível. Me exaure e me alimenta, me despe e me respira, toma banho comigo, me desatina, me agita, me salva.
De mim mesma me salva. Nada pontual. Me escande em muitas sílabas, de fé e silêncio e desejo. Me lava os pés, os olhos, muda esfinge de água. Me enxuga e me veste.
E finalmente me acorda: roupas velhas, alma nova.
Todo dia, o amor faz em mim tudo sempre igual.
Me escolhe, me constrange, senta comigo, tomando café. Molha comigo as plantas, olhando pela varanda, paisagem de estanho e neblina. Às vezes muito azul, às vezes domingo. Às vezes feriado de sol.
Manda mensagens, o amor, pelas minhas mãos já antigas. Chora comigo, calado, esperando que alguém interrompa essa forma fútil e febril de fazer contato comigo mesma. Depois ri, desatinado e urgente. Bobo de esperança e carinho. Pleno de cuidados, ele me chama menina. Tola, melancólica, poeta.
Larga pra lá e vai pela rua assoviando. Sobe no elevador do trabalho, já esquecido de tudo.
O amor. Todo dia. Almoça comigo e trabalha. Quer chamar atenção. Escreve mudas linhas oblíquas. Todas dizendo, encantadas: fica comigo, meu amor? Todo dia, ele liga. Pra contar novidades, ele liga. Pra dizer do mundo. Do outro. Dos muitos modos de cantar e de morrer. Vê TV comigo, fica triste e desliga.
O mundo ele desliga. E fica preferindo os livros. Todo dia, ele inventa comigo uma forma nova de dizer seu nome. Um modo outro de pedir desculpas. Fica desencantado. Faz bico. Diz que não tem controle de si, me espanta.
Escreve o nome dela em todas as paredes. Fica olhando depois, tonto de alegria bandida. Todo dia, coitado, ele vai embora e volta. Desiste de tudo. Desamparo. A fome aperta, seis da tarde.
Louco pra beijar, ele me espera. Eu sento com ele no colo, digo que está tudo bem. Me resguardo. Deixo ele chorar baixinho. Deixo ele dormir. Quase menino e pavor.
Depois acorda, renovado. É a vez dele me ninar. E sorrir. Afaga meus cabelos, o amor, me põe deitadinha na cama. Faz de mim o que quer; diz que é assim mesmo. Hoje beija, amanhã não beija.
O consolo da poesia vem dele mesmo, culto e suave. Eu escuto seu canto, vou dormindo aos poucos. Entre febril e iluminada. Entre triste e alegre. O tempo anda, eles vêm vindo juntos. Amor e sono. Sono e amor. Eu sonho com ela. Tudo está certo. De repente certo. Ela virá. Eu sei. Foi o amor que me disse.
por Rebecca
http://umasoutras.blogspot.com/

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